Escrito por Paulo Sousa

O tema é quase incontornável na actualidade noticiosa. Deve ou não haver um limite, um controlo, do número dos estrangeiros que nos procuram para aqui trabalhar e viver?

De um lado, elogia-se o multiculturalismo que, segundo os seus defensores, ao acrescentar diversidade, valoriza a sociedade que dele beneficia. A isto, acrescentam o imperativo moral de permitir que os refugiados, mais ou menos, políticos, encontrem entre nós as garantias de segurança que não têm nos seus países de origem. Esta facção acha que os entraves à imigração são entraves ao direito de todos poderem procurar uma vida melhor e por isso todas a barreiras físicas, legais ou administrativas são na sua essência desumanas e uma perversa manifestação do cepticismo da direita.

De outro, receia-se que a entrada de gente de outras crenças, tonalidades e hábitos, se misturem com os nossos, e que a prazo venham a desvirtuar aquilo que somos como comunidade. Estes defendem um controlo rigoroso das entradas e até a repatriação de todos os que não passam despercebidos. Acham que as “portas abertas” defendidas pela esquerda, levarão os países anfitriões à sua total descaracterização e, por via da natalidade, à sua substituição étnica e cultural. Como ouvi há uns anos, na altura em que os emigrantes romenos davam muito nas vistas, esta facção aceitaria contribuir para uma subscrição pública que colocasse sapos gigantes de cerâmica em todas as fronteiras romenas, peças essas que estariam voltadas para o interior desse país. Viva a imaginação.

Mas se observarmos toda esta dinâmica num outro ângulo, o que vemos é algo bem diferente. Não vale a pena aqui explicar a lei da oferta e da procura, mas é óbvio que a abundância de mão de obra coloca em vantagem quem a contrata. Ora, são os mesmo empresários, que a esquerda defensora das “portas abertas”, e que por defeito (literal) a todos classifica como desumanos e abusadores, que sai beneficiada com a pressão que as “portas abertas” colocam na oferta de trabalho. Havendo centenas de pessoas acampadas no jardim da Igreja dos Anjos, à procura de algo a que se possam agarrar para sobreviver, serão esses mesmos empresários (a face perversa do capitalismo selvagem) que, apenas e exclusivamente nos dias que deles necessitem, ali os contratarão informalmente e sem a garantia de que no dia seguinte terão trabalho. 

É óbvio que a abundância de imigrantes é excelente para a economia informal e, por consequência, os direitos desses trabalhadores só serão respeitados se estes ganharem poder negocial, o que aconteceria se não fossem suficientes para responder à procura.

Por isso, acho piada sempre que oiço a esquerda radical e a direita populista falarem de imigração.

 

[Fonte: delitodeopiniao.blogs.sapo.pt]